Phyllomedusa nordestina Depois de muitas viagens exploratórias pela bacia do Rio São Francisco, em junho de 2008 tive uma feliz surpresa, quando, olhando mais atentamente para o que normalmente não dava a mínima atenção, percebi uma das criaturas mais lindas e simpáticas que já tive contato: as Phyllomedusas.

Foto: Jovens exemplares de Phyllomedusa nordestina
Foto: Ponte sobre o Rio São Francisco, em Ibotiraba-Bahia-Brasil
Assim, foi com muita alegria que percebi pequenos exemplares de Phyllomedusa nordestina numa das poças conhecidas do Simpsonichthys adornatus, um dos muitos killifishes da região.
Foto: Killifish: Simpsonichthys adornatus que vive em simpatria na mesma poça onde as Phyllomedusas vive suas primeiras fases de vida. Apesar da coloração verde ser o que mais chama atenção neste animal, percebi que eles têm a capacidade de praticar mimetismo, adquirindo diversos tons de verde (desde o limão até o verde-musgo) e alcançando até o marrom, de acordo com a superfície onde estejam. Esta capacidade de se mimetizar, aliado ao fato de se movimentarem muito lentamente num padrão parecido com os bicho-preguiça (gêneros Bradypus e Choloepus), faz com que estas pererecas se tornem praticamente invisíveis aos seus predadores. São encontradas em grande parte do semi-árido do nordeste do Brasil, com sutis diferenças entre as diversas populações.
Foto: Phyllomedusa nordestina fazendo mimetismo, com diferentes padrões de cor. Possuem hábitos arborícolas e permanecem a maior parte da vida nos galhos das árvores, entre 1 e 5 metros de altura. Na ocasião não percebi vocalização, pois este animal são noturnos e tive contato com eles no início da tarde, quando o sol ainda era bastante intenso. Porém, apresentam vocalização discreta com um padrão rouco e grave, parecido com um "tróóc-tróóc" (Freitas e Silva, 2007).
Durante todo o dia estes animais normalmente permanecem imóveis sobre folhas ou troncos com coloração idêntica a estas superfícies, de modo que realmente foi uma grande sorte percebe-los nas margens do biótopo, que era uma grande poça, com aproximadamente 500 m de comprimento e apenas 10 metros de largura em seu ponto mais largo. Esta poça, localizada na margem esquerda do Rio São Francisco, tinha cerca de 0,60 m de profundidade e temperatura entre 22 e 28ºC. Tinha ainda suas margens infestadas por vegetação composta essencialmente de Echinodorus sp., cujas robustas folhas, fora a água, servem de abrigo aos ovos das Phyllomedusas. Ainda nas margens da poça, mas desta vez fora da água, a vegetação comum da caatinga, espinhosa e de cerca de 4 metros, deveria abrigar diversas Phyllomedusas repousando até a próxima noite, quando saem para se alimentar e reproduzir.
Foto: Poça onde a Phyllomedusa nodestina desova e vive sua primeira fase de vida.
Foto: Fases de desenvolvimento da Phyllomedusa nordestina
Assim, após esta surpresa, apesar de um grande curioso e apaixonado pela natureza, lembrei que já havia me deparado com os girinos desta espécie muitas vezes em excursões anteriores, mas nunca tinha dado a devida atenção. Isto demonstra o quanto a falta de conhecimento nos cega para muitas maravilhas e surpresas da natureza.
Acredito realmente que a falta de conhecimento seja um dos maiores riscos para a natureza em geral, pois sem este, os homens continuaram destruindo e depredando, muitas vezes sem ao menos terem noção do mal que causam à natureza e a si próprios em conseqüência.
Enfim, a experiência que tive com estes animais lindos e dóceis, abriu meus olhos, tornando-me um novo amante e defensor não somente dos killifishes, mas agora também do rico mundo da herpetologia e da natureza em geral!
Esta linda perereca é criada como hobby em todo o mundo, onde são chamadas popularmente de rãs-macaco. No Brasil, sua criação ainda é proibida pelos órgãos governamentais, como acontece com muitos outros répteis, anfíbios, aves e até insetos brasileiros.
Foto: Exemplar adulto de Phyllomedusa nordestina Infelizmente esta proibição, aliada com políticas de educação deficientes (que não incentivam pesquisas e o desenvolvimento da ciência entre jovens, nas escolas e universidades) e com a falta de fiscalização, acabam por fortalecer o contrabando de animais silvestres e fomentando a ilegalidade, enquanto mantém na clandestinidade muitos pesquisadores sérios, amantes da natureza. Muitos animais nacionais são criados amplamente no exterior e explorados científicamente, enquanto no Brasil, pouco ou nada se sabe sobre eles...
Referêcias:
FREITAS, Marco Antônio de; SILVA, Thais Figueiredo Santos. Guia Ilustrado: a herpetologia das caatingas e Áreas de altitude do nordeste brasileiro. Pelotas: USEB, 2007.
Um comentário:
Cara parabèns por sua pesquisa, eu sou um admirador desses animais estou buscando informações sobre as Plyllomedusas nordestinas e só encontrei basicamente esse seu artigo.
Parabéns.
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